sexta-feira, 22 novembro, 2024
Teatro

Texto do autor português Rodrigo Francisco, diretor da Companhia de Teatro de Almada, o espetáculo Quarto Minguante tem encenação de Neyde Veneziano e interpretação de Anderson Muller e Giovani Tozi

Crédito: Priscila Prade

Estreia no Teatro FAAP dias 16 e 17 de maio e depois cumpre  temporadas gratuitas em junho e julho nos teatros da Prefeitura

Matéria: Divulgação
Foto: Priscila Prade

O espetáculo teatral QUARTO MINGUANTE, com texto do autor português Rodrigo Francisco, diretor artístico da Companhia de Teatro de Almada e do Festival de Almada,  direção de Neyde Veneziano, com os atores Anderson Muller e Giovani Tozzi, estreia dias 16 e 17 de maio, terça e quarta, às 20 horas, no Teatro FAAP. Em seguida faz duas temporadas gratuitas em teatros da Prefeitura – Teatro Paulo Eiró (de 02 a 25 de junho) e Teatro Arthur Azevedo (de 13 a 16 de julho).

Em um quarto de hospital o filho chega para visitar seu pai, que acabou de sofrer um AVC. O barulho da rodovia ao lado não é o único ruído na comunicação dos dois. A peça é contada por meio de sete visitas feitas pelo filho, único, ao pai.  A partir daí se desenro la a complicada relação entre os dois, com a intimidade esvaziada pela ação do tempo. O filho percebe que já não sabe o que dizer para aquele que outrora fora seu herói. Embaraçado, acaba por levar-lhe um livro. Anos antes, o filho deixou a pequena cidade onde morava para viver sozinho na capital. Entre sonhos e lembranças, os dois percebem que a cidade da infância já não existe, assim c omo já não existem o pai e o filho do passado, e sim dois homens que se encontram num quarto de hospital para conversar enquanto o jantar não chega.

Sobre a dramaturgia

O autor português Rodrigo Francisco escreveu a peça aos 26 anos, e o que se vê nas páginas do livro é o cuidado com a memória, equilibrada entre o peso da saudade e a leveza das lembranças. Essas qualidades foram rapidamente notadas pelo público e a crítica em sua estreia. Na sequência o texto ganhou versões na Espanha, pela revista Primer Acto, e na França, pelas Éditions l ’Oeil du Prince, além de uma adaptação para a televisão. “Escrevi esta peça por sugestão de Joaquim Benite, o fundador da Companhia em que trabalho e um dos nomes fundamentais da renovação do teatro português, na sequência da Revolução de Abril de 1974. O Joaquim sabia que eu tinha veleidades literárias e, sendo um dos mais reputados encenadores portugueses, teve o gesto generoso de dirigir um texto de um principiante de 26 anos. Na verdade, ele próprio me ajudou bastante na reescrita da primeira versão da peça. Os seus ensin a mentos dramatúrgicos, fruto da sua carreira de (na altura) quase 40 anos, foram preciosos e ainda os guardo hoje em dia”, conta o autor. Não à toa Francisco demonstra em sua dramaturgia tamanha intimidade com a memória. O dramaturgo e encenador fez a sua formação teatral com Joaquim Benite, de quem foi assistente de encenação em diversas produções. Benite é figura fundamental no teatro português, além de ter oferecido uma contribuição imensa aos palcos portugueses, Benite foi durante 10 anos o diretor da Companhia de Teatro de Almada e diretor do Festival de Almada, funções herdadas atualmente por Rodrigo Francisco.

Encontro no Teatro de Almada

Em entrevista por email, Rodrigo Francisco conta que o ponto de partida para este texto foi um poema do autor inglês Tony Harrison, Book ends. “Book ends é como os ingleses chamam aqueles objetos que colocamos nas estantes para segurar os livros, nos topos: quanto mais livros entre eles, maior é a distância afectiva, tal como o pai e o filho desta história”, diz. Na definição do autor, esta é uma peça sobre crescer nos subúrbios, sobre ascensão social, sobre um filho que teve acesso a um mundo ao qual o seu pai não teve. “Este filho julga que a vida interior que lhe advém da vivência artística lhe há-de trazer a felicidade. Mas eu não estou l&a mp;a acute; muito certo de que assim seja, na verdade. No final, acabam a prometer um ao outro que ainda hão-de ir os dois à pesca. Ambos sabem que não será assim. Este pai teve um AVC grave e o filho, na primeira visita que lhe faz, no hospital, traz-lhe um livro. O que, tendo em conta as circunstâncias e as histórias de ambos, é um acto simultaneamente desesperado, ternurento e cruel.”

Francisco conheceu Neyde Veneziano junto com Giovani Tozi, quando ambos estavam em Portugal para assistir a estreia dos eventos relacionados ao Festival de Almada, e aproveitou para presenteá-los com quatro livros seus, entre eles Quarto Minguante. “Do encontro que tive com ambos, em Almada, fiquei com a clara ideia de estar perante duas pessoas que amam profundamente o teatro. Li o livro que a Neyde escreveu sobre o Dario Fo: um mestre para várias gerações de criadores. Espero que tanto a encenadora quanto o ator se tenham deixado levar pelo que esta peça de juventude possa ter-lhes tocado.” O autor não estará presente na estreia aqui no Brasil pois na mesma época em que Quarto Minguante entrará em cartaz, ele co meça a en s aiar sua próxima peça, a comédia Calvário.Como em Quarto Minguante, é do encontro entre a experiência com a ousadia, que nasce algo único e potente. Qualidades essenciais para que o teatro cumpra sua vocação inicial, de comunicar a todos, de ser popular, além de ser inovador, e por isso inesquecível.

Sobre a encenação – Road-movies (por Neyde Veneziano)

Considerando o psicologismo implícito que se revela através de sete visitas, percebe-se que há uma poderosa dose de culpa que dificulta o entendimento entre as duas personagens. Essa dificuldade de comunicação entre os dois se manifesta dramaturgicamente através de diálogos curtos, que são interrompidos por silêncios e sentimentos passados que se mostram aos poucos. Essas falas “curtas” nos mostram um texto que foi muito elogiado por críticos portugueses. Respeitando esse contundente texto teatral, optei por uma interpretação realista entre os dois protagonistas. Sim. São dois protagonistas, porque o antagonismo muda conforme o assunto: ora é o pai, que, com sua visão de mundo de um tempo mais antigo, assume a condu&ccedi l;ão da cena, e ora é o filho, mais moderno e mais culto, que nos emociona com suas lembranças.

Caminhando junto com essa interpretação, ousei pensar em uma encenação nada realista, seguindo uma pista importantíssima que o próprio autor nos deu: um livro que narra estados de uma alma com AVC. Nessa esteira, entram as imagens de André Grynwask trazendo modernidade com outras possibilidades de leitura. Ou seja, temos uma interpretação realista e emotiva dentro de um cenário nada convencional de Duda Arruk. Trata-se de um espetáculo repleto de signos poéticos motivados pela memória afetiva de dois homens que descobrem, aos poucos, o amor que estava escondido em meio a tantas diferenças.

Dentre as diversas camadas que o texto nos oferece, percebe-se uma estrutura semelhante aos “road-movies”. Esses “filmes de estrada” seguem estruturalmente, um roteiro sobre duas pessoas que viajam juntas. Durante a viagem surgem inúmeras dificuldades de entendimento. Aos poucos, ao enfrentarem situações  muito complicadas e até violentas, chegam a um final de compreensão mútua capaz de os  fazer descobrir o amor que há entre eles, com suas diferentes caras. Em Quarto Minguante, durante pouco mais de quinze dias e, através de sete visitas, os desentendimentos são superados pela memória afetiva entre pai e filho.

Produtor, idealizador e ator

Trancado em casa na pandemia, Giovani aproveitou a oportunidade do confinamento para entrar em contato com suas memórias, entre elas, após encontrar uma foto do  pai nas arrumações, a constatação da semelhança física entre ambos. A recordação levou-o a pensar no texto da peça de Rodrigo e em como pode ser intensa a relação entre um pai e um filho. Mesmo sem essa experiência (“minha mãe se separou quando eu tinha 10 anos”), Toziu sentiu a potência e a força da figura paterna. Idealizador do projeto do espetáculo, Giovani Tozi também produz e está em cena. O primeiro trabalho feito por ele neste formato de iealizar, produzir e atuar data de 2016, As Luzes do Ocaso, com Magali Biff e direção de Neyde Veneziano. “Para fazer os projetos em que acredito e para conseguir levar ao palco, só tem essa maneira”, afirma, completando que as três áreas são totalmente integradas no tipo de trabalho que vem desenvolvendo.  Tozi cita Jô Soares, Paulo Autran, Ruth Escobar, Cacilda Becker e Tônia Carrero como referências de artistas que mantinham suas companhias e eram produtores. “Com o advento das Leis de Incentivo, o formato passou para as mãos de um produtor só, um homem de negócios, e não tem nenhum problema nisso mas esta pessoa pode não estar muito integrada ao fazer artístico mais artesanal”, comenta o ator sorocabano, que interpreta o personagem Paulo.

Ficha técnica:
Dramaturgia:
Rodrigo Francisco
Direção: Neyde Veneziano
Com: Anderson Müller e Giovani Tozi
Trilha sonora original e piano ao vivo: Rafael Passos
Cenografia: Duda Arruk
Figurino: Karen Brusttolin
Iluminação: Wagner Pinto
Direção de vídeo e videomapping: André Grynwask e Pri Argoud (Um Cafofo)
Assistente de direção: Mercedez Vulcão
Fotografia: Priscila Prade
Produção: Tozi Produções
Produção executiva: Dani Agarelli
Administração: Carlos Gustavo Poggio
Assessoria de imprensa: Arteplural/M. Fernanda Teixeira e Macida Joachim
Idealização e direção de arte gráfica: Giovani Tozi
Realização: PROAC, Veneziano Produções, Tozi Produções, Governo do Estado de São Paulo, através da Secretaria de Cultura e Economia Criativa

“Um texto de uma singeleza tocante, vestido com uma ternura e uma humanidade contagiantes”
Rui Pina Coelho, Jornal Público – Portugal

“O principal mérito de Rodrigo Francisco está na forma como gere o equilíbrio psicológico entre duas personagens aflitas e desajeitadas, tentando contornar os bloqueios na comunicação que os afastaram ao longo dos anos”
José Mário Silva, Diário de Notícias – Portugal

“O melhor da peça são os diálogos curtos entre os dois. A caracterização das personagens e a tensão que nasce em função destas características”
João Carneiro, Expresso – Portugal

Estreias abertas ao público:

Dias 16 e 17 de maio
Quando: terça e quarta (20 horas)
Local: Teatro FAAP (Rua Alagoas, 903, Higienópolis, São Paulo/SP)
Ingressos: R$ 60,00
Duração: 80 minutos
Classificação: 12 anos

Estreia 2 a 25 de junho
Local: Teatro Paulo Eiró (Avenida Adolfo Pinheiro, 765, Santo Amaro, São Paulo/SP)
Ingressos: Gratuito

De 13 a 16 de julho
Local: Teatro Arthur Azevedo (Avenida Paes de Barros, 955, Alto da Mooca, São Paulo/SP)
Quando: de quinta a domingo
Ingressos: Gratuito

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