sexta-feira, 22 novembro, 2024
Teatro

O Fazedor de Teatro faz nova temporada na Oficina Cultural Oswald de Andrade a partir de 24 de janeiro

Crédiro: João Caldas Fº

Com encenação de Marcio Aurélio, a peça da Cia Razões Inversas rendeu indicações ao ator Paulo Marcello aos prêmios Shell e APCA

Matéria: Divulgação
Foto: João Caldas Fº

Montada originalmente em 2022, em comemoração aos 30 anos de trajetória da Cia. Razões Inversas, a peça O Fazedor de Teatro ganha uma nova temporada na Oficina Cultural Oswald de Andrade, entre os dias 24 de janeiro e 3 de fevereiro de 2024. As apresentações são gratuitas e acontecem de quarta a sexta, às 19h30, e aos sábados e feriados (25/01), às 18h.

O ator Paulo Marcello, que recebeu indicações aos prêmios Shell e APCA por este trabalho, ministra a oficina ‘Atuação do intérprete na dramaturgia da cena’, nos dias 29, 30 e 31 de janeiro.

A peça é dirigida por Marcio Aurelio, tem tradução de Samir Signeu e traz no elenco Paulo Marcello, Lilian Alves, Eduardo Santos e Gabriela Marques, além dos atores-convidados Zédú Neves e Ana Souto, que já integraram a companhia anteriormente.

Escrito pelo austríaco Thomas Bernhard (1931-1989), em 1984, O Fazedor de Teatro tem no próprio teatro o paradigma do absurdo da existência humana. Um teatro – leia-se a vida – que falha não só perante as condições exteriores de um mundo adverso, mas também perante os fantasmas, a prepotência e as fraquezas dos protagonistas e da própria sociedade. Assim, temos o teatro como o microcosmo da sociedade.

Na trama, Bruscon está em viagem com a peça A Roda da História, que ele escreveu, dirigiu e protagoniza. A trupe, formada pela esposa e os dois filhos desse “grande” ator do teatro nacional alemão, chega a um pequeno vilarejo da Áustria, chamado Utzbach, para se apresentar em um salão de baile de uma estalagem decadente.

O calor, a sujeira, a falta de recursos, além do cheiro insuportável de chiqueiro e da fábrica de chouriço, completam a cena de desolação frente ao pequeno vilarejo com seus 280 habitantes embrutecidos. Para piorar a situação, os artistas precisam da autorização do chefe dos bombeiros para que a luz de emergência fique apagada durante cinco minutos, condição essencial para a perfeita realização do espetáculo.

“Bruscon é um cara super egóico, que fala de si o tempo todo. Mas ele é totalmente apaixonado pelo teatro. Enquanto ele imagina esse mundo maravilhoso da arte, está diante da realidade de um lugar horrível, onde ninguém liga para o que ele faz. E, ao mesmo tempo que tem esse ego gigante, vai revelando toda a sua fragilidade, o medo de entrar em cena, a sua insegurança – daí essa necessidade de autoafirmação o tempo todo”, comenta Paulo Marcello, que comemora 40 anos de palco neste trabalho, sobre seu personagem.

Para o intérprete, o texto cria uma reflexão importante sobre a arte que cabe perfeitamente ao contexto brasileiro. “Thomas Bernhard nasceu na Áustria, mas odiava o país. Ele dizia que esse era um lugar atrasado, de pessoas ignorantes e nazistas, de xenofobia e desprezo pela arte – tanto que quando ele era vivo proibiu que seus textos fossem encenados lá. E, de certa forma, vivemos no Brasil um momento um pouco parecido, de desvalorização da arte”, acrescenta.

A Cia. Razões Inversas flertava com a montagem desse texto há bastante tempo, conta o diretor Marcio Aurelio. “Conheci o texto com o Abujamra e fiquei encantado. Estávamos só esperando o momento mais propício para montá-lo e isso calhou muito bem com os 30 anos da companhia. O espaço do Sesc Pompeia também foi muito apropriado para receber a montagem, porque ele é todo feito em paredes de tijolo. E queremos retratar uma cidade sem acabamento nesse lugar, como um reflexo para a sociedade, que também não tem acabamentos”, conta.

Além dos 30 anos da Razões Inversas, O Fazedor de Teatro comemorou os 40 anos de teatro de Paulo Marcello, co-fundador do grupo, montado por alunos formados pela primeira turma da graduação em Teatro da Unicamp.

Sobre Thomas Bernhard

Thomas Bernhard (1931-1989), novelista, poeta e dramaturgo austríaco, é considerado um dos autores mais relevantes da literatura de língua alemã da metade do século XX. Ele nasceu em Heerlen, na Holanda; filho de mãe solteira, que após ficar grávida tinha saído da Áustria para trabalhar como diarista na Holanda.

Bernhard volta para Viena ainda em 1931, onde é criado pelos avôs maternos. Na infância viveu os horrores da Segunda Guerra e na juventude estudou canto, violino e estética musical. Iconoclasta, Thomas Bernhard prima por criticar a Áustria; assim como mostrar os absurdos de uma sociedade reacionária e calcificada. Sempre lutou contra doenças pulmonares e morreu de pleurisia.

No Brasil, no campo editorial, temos a publicação de alguns de seus romances e narrativas, como Arvores Abatidas (1991), O sobrinho de Wittgenstein (1992) e Perturbação (1999), pela editora Rocco e, pela Companhia das Letras, as obras Extinção (2000), O náufrago (2006), Origem (2006) – volume que contém seus cinco romances autobiográficos, a saber: A causa, O porão, A respiração, O frio e Uma criança –, O imitador de vozes (2009), Meus Prêmios (2011) e Mestres Antigos (2021).

Há, ainda, a publicação das peças O Fazedor de Teatro (2017), pela Perspectiva, e Praça dos Heróis (2020), pela Temporal; além de O presidente, num caderno brochura, do Instituto Goethe, de Porto Alegre, no Rio Grande do Sul. Sua obra é marcada pela prática da estética do choque, plena do niilismo, misantropia e misoginia dos seus personagens. Uma máquina da linguagem irônica.

Uma disposição testamentária do próprio Bernhard, falecido em 1989, proibia que suas peças fossem encenadas e publicadas na Áustria – à exceção daquelas que já estavam em curso. Essa proibição foi revertida em 1998, por iniciativa da fundação particular Thomas Bernhard, presidida por Peter Fabjan, seu meio-irmão.

Sobre a Cia. Razões Inversas

A Cia. Razões Inversas foi criada em 1990 pelo diretor Marcio Aurelio e a primeira turma de formandos do curso de Artes Cênicas da Unicamp. Nestes mais de 30 anos, construiu uma trajetória voltada para o constante processo de pesquisa, para a formação de seus intérpretes, artistas criadores, na busca do diálogo com o público contemporâneo e da excelência do fazer teatral.

A companhia criou 23 espetáculos partindo de textos consagrados da dramaturgia internacional, textos inéditos de autores nacionais e criações coletivas a partir de longos processos de pesquisa e criação.

Entre esses muitos trabalhos estão “A Bilha Quebrada” (1994 e 2011), de Heinrich von Kleist; “A Arte da Comédia” (1999), de Eduardo de Fillipo; “Agreste” (2004), de Newton Moreno; “Anatomia Frozen” (2009), uma adaptação da obra da inglesa Bryony Lavory; “Senhorita Else”, uma adaptação do romance de Arthur Schnitzler; e “Filoctetes” (2015), de Heiner Müller.

Ficha técnica:
Texto: Thomas Bernhard
Tradução: Samir Signeu
Encenação: Marcio Aurelio
Elenco: Paulo Marcello, Ana Souto (atriz convidada), Zédú Neves (ator convidado), Lilian Alves, Eduardo Santos, Gabriela Marques
Diretora assistente: Lígia Pereira
Cenários: Marcio Aurelio e Marcelo Andrade
Figurinos: Marcio Aurelio e Carol Badra
Visagismo: Olívia Tartufari
Trilha sonora: Marcio Aurelio
Projeto de luz: Aline Santini
Operador de luz:  Silviane Ticher
Operador de som: André Luiz Lemes
Preparação corporal: Luciana Hoppe
Fotos: João Caldas Jr.
Design gráfico: Alexandre Caetano
Divulgação: Pombo Correio
Produção executiva: Cristiane Klein e Júnior Cecon – Dionísio Produção
Produtores / Colaboradores Dionísio Produção: Lívia Império, Wesley Mendes, Flávia Santos, Thomas Calux e Raissa Castilho
Produção: Paulo Marcello – Razões Inversas Marketing Cultural
Assistente de produção: Luciana Hoppe

Sinopse

Bruscon, ator do teatro nacional alemão, depois de sua aposentadoria, faz turnês pelo interior da Áustria e da Alemanha. Bruscon aglutina e carrega consigo todas as funções relativas ao fazer teatral: foi ele quem escreveu e dirigiu a peça. Além disso, Bruscon se preocupa com as funções administrativas e financeiras da companhia, que é de ordem familiar: os componentes do grupo são sua esposa, sua filha e seu filho. A peça começa quando a companhia chega à hospedaria onde fará sua apresentação numa pequena cidade do interior da Áustria.

Este projeto foi contemplado pela 17ª Edição do Prêmio Zé Renato – Secretaria Municipal de Cultural

Serviço:
O Fazedor de Teatro, da Cia. Razões Inversas (de 24 de janeiro a 03 de fevereiro)
Quando: quartas, quintas e sextas-feiras (19h30), sábados e no feriado, dia 25,  (18h)
Local: Oficina Cultural Oswald de Andrade – Rua Três Rios, 363, Bom Retiro, São Paulo/SP)
Ingressos: Grátis, distribuídos uma hora antes de cada apresentação
Classificação: 14 anos
Duração: 120 minutos
Acessibilidade: sala acessível a cadeirantes e pessoas com mobilidade reduzida

Oficina com Paulo Marcello
Quando: 29 a 31 de janeiro
Atuação do intérprete na dramaturgia da cena
20 vagas, gratuita. Inscrições pelo site da Oswald.

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